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Pandemia e Psicologia o estresse nos servidores [entrevista]

ENTREVISTA AO SITE SINDSAÚDE (OBSERVATÓRIO) TEMA PANDEMIA E PSICOLOGIA


O QUE É A PSICOLOGIA DA PANDEMIA R: A psicologia tem importante papel na contenção dos processos emocionais. No caso das pandemias, ou seja: no caso de alta difusão de infecção, acometendo a maioria do mundo, causada por algum tipo de vírus, ou outro invasor, ocorre um fenômeno inerente ao ser humano: o medo da contaminação e da morte, comportamento que se apresenta de formas e maneiras diversas associadas ao tipo de vida de cada pessoa e seu histórico biológico e emocional. O QUE VOCÊ VEM OBSERVANDO SOBRE ESSA PANDEMIA E A COVID 19 NAS PESSOAS? R: No caso da pandemia da Covid 19, tenho observado alguns fatores estressores, sendo o primeiro deles o natural temor da perda da vida e o segundo, sem dúvida, a imposição de isolamento social, necessário para achatar a curva de transmissão do vírus, mudando radicalmente o cotidiano de milhões de pessoas ao redor do mundo, que se veem obrigadas a permanecer dentro de casa, em estado de quarentena, o qual implica modificação da sua rotina e limitação da sua mobilidade, com reflexos nas suas atividades profissionais, na geração de recursos para sua subsistência e, no plano macro, com reflexos na economia do país. Se por um lado a Covid 19 trouxe mortes, problemas econômicos e colapso dos sistemas de saúde dos países afetados, provocando pânico generalizado, fazendo as pessoas correrem para drogarias e supermercados, esgotando estoques de máscaras, álcool em gel e até papel higiênico, sem pensar no seu próximo, por outro lado tem despertado em outras pessoas louvável comportamento de empatia, de ascensão da solidariedade, de união, de apoio e de ajuda mútua.Toda esta situação tem o poder de afetar a saúde mental das pessoas, pois fatores desconhecidos e incertos fazem com que todos se sintam inseguros, principalmente em casos como esse, de nível mundial. COMO LIDAR COM O SOFRIMENTO EMOCIONAL ASSOCIADO À PANDEMIA R:. Algumas pessoas têm problemas emocionais preexistentes que as levam a ficar muito angustiadas com a pandemia; outras pessoas estão passando muito tempo absorvendo informações assustadoras da mídia ou das redes sociais, resultando em desinformação. Para essas pessoas pode ser melhor limitar a quantidade de notícias e posts em redes sociais sobre a pandemia. Nos períodos de maior estresse, será melhor as pessoas focarem nas suas necessidades e envolverem-se em atividades de que gostem e achem relaxantes; melhor se exercitarem (mesmo que na sala), ficarem com o sono em dia; ingerirem alimentos saudáveis sempre será a melhor forma para reduzir o sofrimento emocional associado. Uma boa estratégia para cuidar da saúde mental é planejar uma rotina, já que ter um hábito regular traz equilíbrio emocional; aproveitar o tempo livre para organizar a casa, praticar o relacionamento familiar ou mesmo desenvolver atividades que tragam prazer, o ócio criativo, e o mais importante, ter sempre em mente que não estamos sozinhos, mas junto com todo o país e com vários países do mundo; entender a fonte da angústia também é importante. Entrar em contato com as emoções positivas. Distanciamento e isolamento social não significam, necessariamente, solidão; o momento é mais indicado viver a solitude que permite a pessoa escutar e observar as próprias necessidades e racionalizar emoções para não desencadear transtornos mentais. O QUE HÁ DE SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS NO COMPORTAMENTO DE PESSOAS NESSA PANDEMIA COM ALGUMA SITUAÇÃO CRÍTICA TRABALHADA POR VOCÊ ? R: O que estamos vendo hoje é muito semelhante ao que vimos nas epidemias anteriores: o aumento da ansiedade, solidariedade e da ajuda mútua. O que está diferente agora é que estamos nos defrontando com uma pandemia em momento de muito mais fluxo e velocidade de informação. Esta é a primeira vez na história da humanidade que temos as redes sociais e a internet durante uma pandemia. Então estamos todos conectados globalmente, e isto significa que não só as informações úteis, mas também a desinformação, podem se espalhar muito mais rapidamente. E as informações falsas podem assustar as pessoas e disseminar o pânico. O que também torna essa pandemia diferente é que, como todos nós estamos conectados globalmente pela internet e pelas redes sociais, somos capazes de oferecer apoio uns aos outros, mesmo que estejamos socialmente isolados. No que diz respeito aos casos clínicos, envolvem perfis de pessoas que apresentam diferentes transtornos. Pacientes que já apresentam transtorno de ansiedade preexistente, por exemplo, na sua maioria encontram- atualmente descompensados, com aumento da ansiedade, desenvolvendo padrões de pensamentos pessimistas acerca da realidade, imaginando cenários e situações catastróficos. Esses pacientes estão sendo acolhidos e atendidos semanalmente, pela internet na tentativa de reduzir a ansiedade e sintomas que geram sofrimento. “AQUI NO BRASIL, COM O AUMENTO DO NÚMERO DE CASOS, O PRESIDENTE CHAMOU A PANDEMIA DE “FANTASIAS”, “HISTERIA“, CONTRA TODAS AS RECOMENDAÇÕES. ELE INCENTIVOU A REALIZAÇÃO DE MANIFESTAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE.” QUAL IMPORTÂNCIA DOS ATOS E DE QUE FORMA ESSES COMPORTAMENTOS PODEM INFLUENCIAR OS TRABALHADORES DA ARÉA E A POPULULAÇÃO EM UMA PANDEMIA. ? R : Os líderes do governo precisam liderar pelo exemplo, precisam mostrar às pessoas quais são as coisas importantes que elas devem fazer, porque as pessoas buscam nos líderes inspiração e conselhos de como se comportar. Outra razão é a confiança pública: se o público não confiar em seu líder ou não confiar nas autoridades de saúde, não fará o que eles dizem. Garantir a confiança pública e fornecer informações precisas e verdadeiras reconhecendo as incertezas será visto como sinal de confiabilidade e transparência. Se as pessoas não confiam no governo não cumprem o distanciamento social, agravando a situação da contaminação de forma mais veloz, promovendo o colapso no sistema de saúde e provocando muitas mortes. Isso mostra o quão importante é para o governo garantir que o público o veja como confiável. Quanto ao comportamento dos trabalhadores da área de saúde , neste caso influencia de forma negativa, promovendo o aumento do estresse, medo, irritabilidade e ansiedade com prejuízo do desempenho . QUAIS SÃO OS EFEITOS PSICOLÓGICOS DO DISTANCIAMENTO SOCIAL E DE QUARENTENA ? R: A maioria são efeitos psicológicos negativos como sintomas de estresse pós-traumático, aumento da ansiedade, sintomas depressivos, tristeza, abuso de medicação, e irritabilidade. Os fatores estressores observados incluem o próprio estado de quarentena, o qual, como dissemos, implica modificação da rotina e limitação da mobilidade; a duração prolongada da quarentena; o medo de infecções; frustração; tédio; perdas financeiras. Todo comportamento e experiência humana estão vinculados ao contexto, ambiente e relações em que a pessoa se encontra; a mudança da rotina de uma pessoa pode desencadear ansiedade e estresse. Essa transformação pode ser negativa, relacionada ao sofrimento, ao trauma e ao aparecimento de sintomas emocionais e físicos. A depender de cada pessoa e seu histórico de vida, o distanciamento social pode desencadear processos e sentimentos de diversas ordens, principalmente dificuldade de racionalizar a realidade de forma mais lúcida, perdendo a capacidade de adaptação das suas rotinas. ISSO IMPACTA SÓ NAS PESSOAS IDOSAS? R : Os idosos são uma preocupação maior porque sofrem com o isolamento social, e muitos deles já estão sozinhos. Agora, com a exigência e o longo tempo de isolamento, aumenta a preocupação de que os idosos se sintam solitários ou deprimidos. Os impactos emocionais presentes na totalidade das pessoas atingem igualmente o comportamento das pessoa idosas , em menor ou maior nível dependendo das preocupações e angústias de cada uma delas. Algumas pessoas idosas têm problemas emocionais preexistentes que as levam a ficar muito angustiadas com a pandemia. NO ESTILO DE VIDA DAS PESSOAS, COMO ISSO INFLUENCIA E TEM ALGUM PRECEDENTE POSITIVO OU NEGATIVO NA HORA DE TOMAR DECISÃO. ? R : As emoções estão diretamente ligadas ao senso de razão, pois sem elas não conseguiríamos tomar decisões; são as emoções que nos fazem refletir e usar o nosso lado analítico para resolver os contratempos e soluções as mais diversas possíveis. Logo, na ausência de toda e qualquer emoção, a capacidade que possuímos de tomar decisões mais assertivas ficariam muito comprometidas, e as escolhas anunciadas não seriam nada fáceis, bem como absolutamente neutras. Pensar que a pandemia é uma situação transitória que vai passar, e que você está contribuindo positivamente para isso, ajuda a acalmar a mente. QUE RECADO VOCÊ DARIA AOS BRASILEIROS, EM ESPECIAL AOS SERVIDORES PÚBLICOS DA SAÚDE QUE ESTÃO NA LINHA DE FRENTE? R : Um bom começo é lembrar que a pandemia do novo Corona Vírus não é o primeiro desafio enfrentado no planeta Terra e que não estamos sozinhos, mas fazendo parte de uma estratégia comunitária que pode salvar muitas vidas. “Os humanos já vivenciaram várias epidemias em outros tempos. Faz parte da nossa história”. Neste momento o uso excessivo das redes sociais pode ser angustiante. É preciso ter cuidado e medir o tempo para não fazer uso das mídias de forma obsessiva, com o consumo exagerado de conteúdo informativo, mas também de fake news que propagam o pânico. Nesses dias de reclusão, é preciso observar também os relacionamentos. Conversas pessimistas que provocam sentimentos depressivos não são as melhores escolhas neste momento. Aos profissionais de saúde, olhem a situação de forma realista, sem pânico. Tentem perceber o que pode ser positivo. Pratiquem a criatividade e a resiliência. O sentimento de impotência, bem como o aumento intenso da carga de trabalho, geram sensações de perda de sentido e desmotivação em muitos profissionais. Por mais que os profissionais de saúde sejam ensinados e capacitados a lidar com emergências e desastres, o que estamos vivendo é algo que causa impactos emocionais negativos mesmo que de forma diferente para cada pessoa. Ideias negativas, que trazem medo e muita apreensão são comparáveis a gatilhos tóxicos que desencadeiam pensamentos que não são bons. Elas podem ser combatidas com a ideia de que todos estamos juntos. “Em um só barco”. E que isto vai passar.


Fonte: SindSaúde

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